sábado, 24 de janeiro de 2009

"Raquete"

Minha mãe entra no meu quarto com um papel tolha enrolado no dedo.

É, bem assim. De repente; O papel já tava todo vermelho, com uma voz chorona ela me disse: " Uidol, cortei o dedo, ó..." . Levantei da cadeira, o quarto estava escuro, nem pensei em acender a luz, fui logo pegando a luminária de leitura, limpando minhas mãos na camiseta, e pedindo pra olhar...
Ela falou que não parava de sangrar, com a mesma voz chorona. Num instante passou um puta filme na minha cabeça, a diabetes dela, a má cicatrização, amputamento, meu yayo... Mas era um corte sussa.

Falei pra apertar, fazer uma pressão no corte com o papel, perguntei se doía, ela disse que não, com a mesma voz chorona... Haha... Muito gostoso, muito boa essa voz da minha mãe. Não conhecia essa voz dela ainda... Apesar de conhecer boa parte de suas caras, bocas e vozes. Mas essa era nova.

Desci as escadas, fui na frente, andando de costas pra verificar se ela ia bem descendo as escadas. Coisa que só agora reparei. São certos cuidados que tive, acho que partiram do meu extinto de "filhote". Enquanto eu molhava minhas mãos com álcool, pedi que sentasse no banquinho que tem na cozinha...

Peguei uns papeis e me abaixei da mesma altura que ela estava...
"Parou! Viu , ta tudo bem."

Enquanto passava o remédio ela fazia a cara dela de dor, mas não doía tanto... Senti papéis invertidos, senti meu amor pela minha mãe, senti felicidade. Não por ela se cortar, mas por eu estar ali por ela, e ela confiar em mim.

Tenho poucos momentos desses com meus pais, mas quando os tenho são os mais lindos do mundo. Duram pra sempre, matam cada desentendimento anterior, é como um recomeço, é como uma "nova chance".

Lembrei de uma vez que ralei o joelho na rua... Tinha uns 6, 7 anos, foi na rua da casa da minha avó. Cheguei abrindo o bocão na garagem da casa dela... Do mesmo jeito que aconteceu com minha mãe, aconteceu entre eu e minha avó. Só que com um pequeno detalhe: Ao invés de merthiolate era mercúrio. Na minha época, se visse tua mãe com aquela "raquete" de merthiolate na mão , falando "vem cá filhote..." Eu corria! Ele ardia, hoje não mais... Mas enfim, quando minha avó apareceu com a "raquete" eu fiquei sem saída... Mesmo ela fazendo o que fiz com minha mãe, me sentando, conversando comigo e tals... Nunca vou esquecer. Ela disse... "calma.. esse é mercúrio, não arde..." eu pensei: "ahan... tá..." Hunf... Lembro como se fosse agora, ela ajoelhou no chão na minha frente, ela tava com o vestido branco com flores azuis, e a trança colocada pra frente, meio de lado no ombro... Quando ela sacou a "raquete" e relou no meu joelho... Eu esbarrei na mão dela, e levantei da cadeira na hora. Realmente não tinha ardido, mas o vestido de minha avó era meio ripe agora, meio thai-dai, sem falar que de repente ela era ruiva...

Sinto saudade.

3 comentários:

Lila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lila disse...

Linda a viajem com a raquete....

Ah, tem post novo.. novinho lá no blog..






beijos!

Lissa Cristina disse...

Ta vendo oq eh extinto materno...rsrsrs