segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dia 1

Na persistência da esperança e no bom senso eu fui. Saí na ultima hora achando que ia chegar atrasado, na porta de casa ainda com o pé atrás voltei pra pegar o Romeu pra ter onde colocar as mãos no meio desse caos. Carreguei com o cuidado de sempre, andei mais depressa e ainda assim cheguei "primeiro"... Até então não havia notado a noite que estava, tinha chovido, o chão estava semi-seco mas molhado o suficiente pra espelhar minha esperança. Eles fecharam a escada, não dá mais pra sentar nos degraus, não dá mais pra debruçar no parapeito. Melhor assim, mais seguro... A vida tem sido uma caixinha de surpresas e não me admiraria se a altura seria interessante, logo me pus a sentar ao lado da grade, a vista ainda era a mesma, o céu estava naquele azul só dele. Os carros passavam depressa, o vento estava beijando o meu rosto e de vez enquando o trem passava e me lembrava que ela poderia chegar a qualquer momento.

Tocava musicas que na hora saiam de mim como se fossem lágrimas, eu sabia que ela não viria, mas a saída repentina dela assim que entrei pra dar "oi", me fez pensar que no ultimo instante ela tinha saído.
Olhava pra traz pra saber se estava lá, tocava musicas que irias amar, mas acho que nem em pensamento estavas lá. Nem minhas tentativas de "gritos musicais" chamaram tua atenção, cada som que saia de minhas mãos, cada cigarro que deixava como um incenso apoiado no violão, contavam os minutos de uma hora longa...Não queria olhar pro relógio, na verdade deixei tudo em casa, o celular não iria tocar mesmo. Mas mesmo assim na minha cabeça a conta exacta de uma hora disparou, exatamente no momento em que eu escutei a frase que queria escutar "posso sentar aqui com você?" Não acreditava que tinha vindo. Na verdade não tinha mesmo.
"claro..." respondi com uma imensa indiferença. "Estávamos olhando você aqui sozinho, e a gente demorou a decidir se viríamos aqui... Fizemos mal?" Acho que o fato de realmente estar sozinho, pareceu evidente pra todos que olhavam pra mim. "Não, na verdade eu já tava tocando a saideira..." Não queria ficar mais ali, queria chegar em casa pra correr pro quarto e ver se o celular tinha tocado. "Ah, só por que a gente chegou?... É!! só por que a gente resolveu escutar a musica mais de perto?" Na verdade o tempo já tinha vencido, a hora já havia passado, não tinha mais o porque estar lá. "Hum, olha... eu já tava indo mesmo, mas terei prazer de tocar pra vocês uma musica...Qual vocês querem?" Pedindo a Deus pra que não fosse algo que me lembraria dela, afinal seria difícil duas garotas que nunca vi na vida pedirem Jewel, Death Cap ou The Cranberries, é difícil pedirem essas bandas, só quem sabe que a gente gosta.

"Ah, Toca Ana Carolina..." Porra! Caralho... tantas cantoras, tantas bandas no mundo todo e vocês querem que eu toque uma pessoa que tem o mesmo nome dela? De súbito me bateu a vontade de falar que era exactamente o que queria, tudo que eu precisava naquele momento, era "tocar" Ana Carolina.

"Eu quero te levar pra mim... eu que não sei pedir nada, meu caminho é meio perdido..."

No fim da canção, me despedi, agradeci os elogios, beijei minha plateia e segui o caminho de volta pra casa. Não consigo me lembrar o que eu pensei no caminho de volta, lembro de carregar com o mesmo cuidado, de não ter a mesma pressa, e de ter tocado Ana Carolina em sonhos.

A garoa fina me acompanhava no caminho de casa, minha cabeça vazia me levava direto pra casa, pensei em esquentar a garganta, mas não iria mendigar um conhaque vagabundo já que tinha deixado minha carteira em casa.
Cheguei em casa querendo ter chegado mais tarde... Não corri pro meu quarto na busca do celular, passei no banheiro e tomei meu banho gelado e verdadeiro. Me trouxe como sempre pra realidade que vivo, me trouxe onde eu nunca deveria ter saído.

Meu celular tinha uma mensagem.

3 comentários:

Ana Carolina disse...

quando vc entrou, a luz caiu na minha casa. eu voltei e vc já tinha saído.

John disse...

Muito bom! cada vez melhor!

Anônimo disse...

Aiai... Irmãozinho... =)
Escreves tão bem ^^
Tão bem quanto sentes o que passa por tua vida.
Quisera eu ver um pouco de alegre luz brotar de determinadas palavras tristes...
Orgulho-me do amigo fiel que tenho, e usarei mais uma vez a frase quase clichê que se usa para demonstrar certo sentimento.
Te amo Uidol, como amigo e como irmão! Você que cheio de pluraridades que só um indíviduo assim poderia ter.
Por tanto, boa noite, e tenha beloz sonhos verdes...
Vanessa.