segunda-feira, 27 de abril de 2009

Laranja

Saindo de casa com um amargo na boca, monto na bike e vou a lugar algum... Os fones ñ deixam nem escutar minha própria voz, como seu a desejasse escutar. Não faz mal, faz parte na verdade.
A subida de casa é rápida, logo vem uma encruzilhada que pareço sempre me jogar a fim de morrer aos olhos de "conhecidos". É uma olhada rápida, mas sempre as mesmas figuras são acusadas pela minha memória fotográfica. Logo entro a direita, o som é David Ryan Adams, a descida é longa, suas lombadas sempre me fazem voar por segundos, mas voo alto. Ela desemboca na avenida principal do bairro. Como se minha vida dependesse disso, eu passo muito rápido por ela, vejo sempre figuras diferentes por lá, o Centro Empresarial é como uma pequena Paulista, na sua humilde Maria Coelho de Aguiar. Logo me despeço e entro no acesso da ponte João Dias... Não sei por que, mas gosto da vista colorida e com odor de merda daquela ponte. Sempre a música do meu fone toca de acordo com as cores do dia, da noite daquela ponte.

Desço por ela, subo a Santo Amaro dessa vez bem devagar, a música parece me incluir em seu video-clip, e começo a ser um personagem de suas batidas e sensacoes. Pela calcada eu vou a maior parte, pedalo dessa vez maior tempo sentado, o vento bate forte contra, mas mesmo assim fui treinado a manter a velocidade, o diretor do clip quer que seja assim.

Logo uma subida. Logo a primeira gota escorre da minha testa e salga meus lábios. O gosto na boca ganha sabor, textura. A frente tenho que decidir que caminho fazer, direita ou esquerda? Prefiro o reto mesmo, assim mantenho meu curso de sempre, mais a frente decido pra onde viro.
Na subida tenho uma forca diferente, acho que por pedalar lento até agora me sobra forca nessa subida... Chego ao topo com o por do sol nas costas. A minha frente o laranja nos prédios e casas, suas janelas refletem a cor das 5:37...

Olho pra trás, os olhos parecem perder sua função por segundos, o ar falta. Logo viro a direita, cruzo uma rua e paro pra voltar a música. Chama-se "Come Pick Me Up", ela inicia outro clip na minha mente, nela pedalo com desdém, sem preocupação de atuacao, sou eu mesmo, sou eu e meu free ride.

Após uma dúzia de ruas vazias chego a uma praça. Dela vejo a porta dos fundos de um cemitério; desço da bike e sento aos pés de uma árvore... Vejo os últimos tons de uma tarde, sinto suas primeiras brisas frias.

Volto a música novamente, as vezes queria me tele-transportar pra lá. Mas não haveria um suspiro fundo aos pés daquela árvore e nem uma boa estória pra contar.

Um comentário:

Vanessa Vieira disse...

Hey!! Acho que vou ter que parar novamente para dizer a meeesma coisa... Você escreve muito bem maninho!! Muito mesmo. Gosto de ler o que escreve apesar de nem sempre fazê-lo. Parabéns viu?
Mas vê se pára de me humilhar hein?!
Brincadeira... Continue escrevendo sempre desse forma linda!
Te amo.
Beijos da sua irmã postiça!